segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

OS “VENCEDORES” DA AMÉRICA

O River Plate foi campeão da Copa Colonizadores... ops! Desculpem, eu e minha mania de fazer sarcasmo com o senso crítico que desenvolvi por engano ao longo da vida... quis dizer, campeão da Taça Libertadores da América de 2018, disputada no fim da tarde deste último domingo, 9. Vencedores DA América do Sul sim mas não NA América do Sul, já que a decisão foi realizada em Madrid, na Espanha, no estádio Santiago Bernabéu. O atacante Darío Benedetto abriu o placar para o Boca aos 44 minutos do primeiro tempo. Mas o River empataria a partida com belo gol de Lucas Pratto aos 23' do segundo tempo. Como empataram no jogo de ida por 2 a 2 e empataram no tempo regulamentar deste segundo jogo, a decisão foi para a prorrogação e o River marcou mais duas vezes com Quintero, aos 4' do segundo tempo da prorrogação, e com Gonzalo Martinez, no finzinho já com dois minutos de acréscimos. ÊÊÊÊ, O River ganhou! Quee bacaaana! O entusiasmo incomensurável de tão grande aqui no meu peito, essa felicidade a transbordar de tão intensa e arrebatadora de todos os meus sentidos me faz perguntar, temos de fato algo a comemorar?

Primeiramente, dizer que o resultado de 3 a 1 para o River no jogo foi merecido. O Boca foi melhor no primeiro tempo, mas errou na estratégia. Sua principal estrela, o artilheiro Benedetto, não poderia jogar toda a partida porque vem de se recuperar de uma lesão mais séria e não aguentava cumprir em alto nível os 90 minutos e eventual prorrogação. Em vez de deixá-lo no banco e colocá-lo a partir de segundo tempo, o técnico do Boca, Barros Schelotto, optou por entrar com o goleador de titular. Deu certo no primeiro tempo, o time virou para a segunda etapa vencendo por 1 a 0. Mas por volta de 20 minutos da etapa complementar, teve que substituí-lo e perdeu força de ataque para os momentos em que o Boca perdeu a superioridade no placar e precisava de gols. O técnico do River, Marcelo Gallardo, punido por não obedecer determinação de não comandar seus jogadores na semifinal contra o Grêmio – punição gerada por retornar com atraso do intervalo em jogo anterior da competição – assistiu sua comissão técnica trabalhar bem para o River dominar o jogo a partir do segundo tempo e conseguir a virada. O campeão da América do Sul de 2018 terminou com 67% de posse de bola, com 638 passes e índice 85% de acertos nesse quesito. O Boca fez 322 passes com 70% de acerto – o River teve mais do dobro de passes e estes com mais eficiência.

Mas é isso, levantou a taça deste ano o clube mais malandro de todos. O que incorreu em diversas irregularidades durante a competição e não ganhou nenhuma punição que lhe doesse de verdade. O melhor em campo nos jogos da primeira fase usando jogador irregular por vários jogos, sem qualquer sanção disciplinar. O melhor em campo contra o Grêmio, mas que seu técnico trapaceou vergonhosamente não cumprindo a determinação de não comandar seus jogadores diretamente no jogo de volta em Porto Alegre, foi punido com uma multinha que resultou em alguns sorvetes a menos em passeio com a família no próximo salário. Tudo bem, ficou de fora das finais, mas valeu a pena totalmente. Foi o melhor em campo contra o Boca na final, mas sua torcida apedrejou o ônibus do rival no jogo da volta e por um erro parecido, há três anos atrás, o mesmo Boca foi eliminado da competição, inapelavelmente – disputando mata mata com o próprio River Plate. Aqui na América do Sul vence o time que é da preferência do presidente da Confederação Sulamericana de Futebol (CONMEBOL). Alejandro Domínguez, coitado, estava ali na premiação tendo que fingir imparcialidade. Não podia nem soltar um rojãozinho para expressar a alegria pelo fruto de seu trabalho – ele que se esforçou tanto para isentar o River, acontecesse o que acontecesse.

Sobre a pergunta que eu fiz, temos algo a comemorar sim, desde que sejamos torcedores do River Plate ou se formos o presidente da CONMEBOL, como é o caso de Domínguez. E para todo o resto dos amantes do futebol, conformem-se porque nos anos que vêm tem mais! Pode esperar pelas meigas trapacinhas impunes, por mais ônibus carinhosamente apedrejados na chegada ao estádio, e até, quem sabe, se o misericordioso deus permitir, outra edição tendo que ser realizada lá no continente europeu – lá onde o pessoal sabe fazer o espetáculo de verdade. Com muita sorte, no meio disso tudo, alguém jogará algum futebol digno de apreciação.
E para os “vencedores” da América do Sul, toda a nossa torcida no Mundial de Clubes da Fifa 2018, que começa agora na quarta (12) com o superclássico planetário (se não houver apedrejamento de ônibus, maior até do que Boca e River) entre o Al Ain, dos Emirados Árabes, e o Team Wellington, da Nova Zelândia, às 13:30 horário de Brasília. Assim, o River precisa tomar cuidado porque as condições agora são adversas. Tipo, se o River marcar um gol de mão como fez na semifinal contra o Grêmio, o árbitro de vídeo da Fifa provavelmente vai anular o gol – la mano do apóstolo pode não salvar desta vez. E, se Real Madrid e River por acaso chegarem na final – o representante da América do Sul pode ficar pelo caminho como já aconteceu algumas vezes –, lá do outro lado vai ter Sérgio Ramos, aquele zagueiro que sabe uns golpes de judô da hora, capazes de tirar o principal atacante do time adversário no jogo da final e não sofrer nenhuma punição por isso.

Cuidado River Plate! Também há “vencedores” em outros continentes.

Paolo Gutiérrez é (meio) jornalista e apreciador de futebol.

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