Primeiramente, dizer que o resultado de
3 a 1 para o River no jogo foi merecido. O Boca foi melhor no
primeiro tempo, mas errou na estratégia. Sua principal estrela, o
artilheiro Benedetto, não poderia jogar toda a partida porque vem de
se recuperar de uma lesão mais séria e não aguentava cumprir em
alto nível os 90 minutos e eventual prorrogação. Em vez de
deixá-lo no banco e colocá-lo a partir de segundo tempo, o técnico
do Boca, Barros Schelotto, optou por entrar com o goleador de
titular. Deu certo no primeiro tempo, o time virou para a segunda
etapa vencendo por 1 a 0. Mas por volta de 20 minutos da etapa
complementar, teve que substituí-lo e perdeu força de ataque para
os momentos em que o Boca perdeu a superioridade no placar e
precisava de gols. O técnico do River, Marcelo Gallardo, punido por
não obedecer determinação de não comandar seus jogadores na
semifinal contra o Grêmio – punição gerada por retornar com
atraso do intervalo em jogo anterior da competição – assistiu sua
comissão técnica trabalhar bem para o River dominar o jogo a partir
do segundo tempo e conseguir a virada. O campeão da América do Sul
de 2018 terminou com 67% de posse de bola, com 638 passes e índice
85% de acertos nesse quesito. O Boca fez 322 passes com 70% de acerto
– o River teve mais do dobro de passes e estes com mais eficiência.
Mas é isso, levantou a taça deste ano
o clube mais malandro de todos. O que incorreu em diversas
irregularidades durante a competição e não ganhou nenhuma punição
que lhe doesse de verdade. O melhor em campo nos jogos da primeira
fase usando jogador irregular por vários jogos, sem qualquer sanção
disciplinar. O melhor em campo contra o Grêmio, mas que seu técnico
trapaceou vergonhosamente não cumprindo a determinação de não
comandar seus jogadores diretamente no jogo de volta em Porto Alegre,
foi punido com uma multinha que resultou em alguns sorvetes a menos
em passeio com a família no próximo salário. Tudo bem, ficou de
fora das finais, mas valeu a pena totalmente. Foi o melhor em campo
contra o Boca na final, mas sua torcida apedrejou o ônibus do rival
no jogo da volta e por um erro parecido, há três anos atrás, o
mesmo Boca foi eliminado da competição, inapelavelmente –
disputando mata mata com o próprio River Plate. Aqui na América do
Sul vence o time que é da preferência do presidente da Confederação
Sulamericana de Futebol (CONMEBOL). Alejandro Domínguez, coitado,
estava ali na premiação tendo que fingir imparcialidade. Não podia
nem soltar um rojãozinho para expressar a alegria pelo fruto de seu
trabalho – ele que se esforçou tanto para isentar o River,
acontecesse o que acontecesse.
Sobre a pergunta que eu fiz, temos algo
a comemorar sim, desde que sejamos torcedores do River Plate ou se
formos o presidente da CONMEBOL, como é o caso de Domínguez. E para
todo o resto dos amantes do futebol, conformem-se porque nos anos que
vêm tem mais! Pode esperar pelas meigas trapacinhas impunes, por
mais ônibus carinhosamente apedrejados na chegada ao estádio, e
até, quem sabe, se o misericordioso deus permitir, outra edição
tendo que ser realizada lá no continente europeu – lá onde o
pessoal sabe fazer o espetáculo de verdade. Com muita sorte, no meio
disso tudo, alguém jogará algum futebol digno de apreciação.
E para os “vencedores” da América
do Sul, toda a nossa torcida no Mundial de Clubes da Fifa 2018, que
começa agora na quarta (12) com o superclássico planetário (se não
houver apedrejamento de ônibus, maior até do que Boca e River)
entre o Al Ain, dos Emirados Árabes, e o Team Wellington, da Nova
Zelândia, às 13:30 horário de Brasília. Assim, o River precisa
tomar cuidado porque as condições agora são adversas. Tipo, se o
River marcar um gol de mão como fez na semifinal contra o Grêmio, o
árbitro de vídeo da Fifa provavelmente vai anular o gol – la
mano do apóstolo pode não salvar desta vez. E, se Real Madrid e
River por acaso chegarem na final – o representante da América do
Sul pode ficar pelo caminho como já aconteceu algumas vezes –, lá
do outro lado vai ter Sérgio Ramos, aquele zagueiro que sabe uns
golpes de judô da hora, capazes de tirar o principal atacante do
time adversário no jogo da final e não sofrer nenhuma punição por
isso.
Cuidado River Plate! Também há
“vencedores” em outros continentes.
Paolo Gutiérrez é (meio)
jornalista e apreciador de futebol.
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