segunda-feira, 29 de novembro de 2021

LIBERTADORES 2021: A UEFA JÁ VENCEU DE NOVO!

Ainda sobre a Libertadores da América 2021, decidida entre Palmeiras e Flamengo no estádio Centenário de Montevidéu no último sábado (27). Primeiramente, parabéns ao Palmeiras, tricampeão da América do Sul, a segunda maior confederação de futebol do planeta. Vitória merecida de um clube que investiu, trabalhou, aprendeu com os erros, aproveitou os acertos e chegou ao topo com todos os méritos. É a terceira conquista do alviverde paulista no segundo torneio continental de clubes mais importante do futebol, na sua história, e a segunda seguida - ano passado bateu o Santos após eliminar o último gigante argentino ainda de pé, o River Plate.

Todo evento com aura de "histórico" no futebol traz mensagens indiretas em seus desfechos. Esta era uma disputa entre os dois considerados como maiores times do Brasil da atualidade. Esta final de sábado nos disse duas coisas importantes, entre tantas. Os dois brasileiros entraram em campo como maiores vencedores nacionais, tendo conquistado os dois as 3 últimas edições do Campeonato Brasileiros antes desta de 2021. Eram também os vencedores das duas últimas Libertadores antes desta atual. Fora isso, venceram em todas as demais competições nacionais e estaduais e até no torneio amistoso mais famoso aqui no Brasil dos dias de hoje, a Flórida Cup - apelidada carinhosamente de "Copa Mikey".

Sábado tivemos o encontro dos dois melhores dos 3 últimos anos. Palmeiras e Flamengo entraram em campo não só para decidir a atual edição da Libertadores. Entraram para definir quem é o melhor time do Brasil e da América do Sul desta época. O que nos disse a vitória indiscutível do time paulista, além do título direto, é que hoje ele está acima de todos os gigantes locais. É o dominante deste pedaço do planeta futebolístico. E aí houve um recado para a nação flamenguista. Muito se vangloria de nunca ter sido rebaixada no Brasileirão e vive tirando sarro dos gigantes que já caíram.

Pois é! Tanta superioridade rubro-negra alardeada em redes sociais e conversas informais Brasil afora, e na hora do "vamo vê!", na hora de decidir quem era o melhor de todos finalmente, no momento de mostrar aos inferiores maculados com a vergonha do descenso quem é que manda (nesta *ôrra!), vamos lá Mengão superior a todos já no DNA... broxou e tomou a taca (como dizemos aqui na Bahia) de um time que já foi rebaixado duas vezes (como assim???!!!!!!). 

Se por acaso ainda não tiver caído a ficha na cabeça da maior torcida do Brasil, o argumento do "sou melhor porque nunca fui rebaixado" acabou de se tornar inútil para sustentar a arrogância existencial do Flamengo. É tão melhor que os outros, que um bicampeão da série B entrou para a seleta lista dos tricampeões da Libertadores primeiro que ele. Num desfecho totalmente bizarro para as pretensões de maioral - pretensões de genitália masculina maior de todas - do discurso do flamenguista, agora até um corintiano vai usar o tricampeonato do Palmeiras para rebater o discursinho batido do "beije meus pés porque eu nunca fui rebaixado".   

O outro recado tem a ver com a pergunta natural que temos a fazer sobre o Palmeiras. É o melhor time paulista da atualidade, o melhor time brasileiro da atualidade, o melhor da América do Sul da atualidade - indiscutível! O que falta pro Palmeiras neste momento de glória estentoramente ruidosa para seus cabisbaixos e calados rivais? Resposta: conquistar o título que lhe falta na galeria - o Mundial de Clubes. É a única pedra que resta pro palmeirense tirar do sapato. É onde seus rivais ainda conseguem atingi-lo com contundência no abundante repertório de piadas e memes de toda ordem sobre o assunto.

Mas sobre isto a mensagem deste último sábado (27) é bem clara. A Europa já venceu de novo! Calma! Não estou dizendo que o Palmeiras já está derrotado no mundial. Pelo contrário, esta é uma ótima oportunidade para conquistar o tão sonhado título com o qual o torcedor alviverde vai arrotar a SUA arrogância existencial até a extinção da humanidade. Calma de novo! Não estou dizendo que o representante europeu no mundial deste ano está fraco porque é o Chelsea que está lá. Novamente pelo contrário, é um time da Premier League, o maior campeonato nacional do planeta, muito organizado, cheio de recursos e que vem de resultados recentes poderosos.

Além de ser o atual campeão da Liga dos Campeões da UEFA - a maior confederação de futebol do planeta - desbancando o super Real Madrid e o Manchester City do renomado Pep Guardiola, o time londrino é o atual campeão da supercopa europeia (equivalente à Recopa aqui na América do Sul) e é - pelo menos até a próxima rodada em relação ao dia em que estou escrevendo e publicando este comentário - o atual líder do campeonato inglês, competição que disputa com os gigantes Liverpool e Manchester United. Não é pouca coisa.

A oportunidade boa para o Palmeiras é que este Chelsea campeão europeu não é um time no nível "altamente imbatível", jogando um futebol tão superior que torne a missão impossível. É o melhor time do planeta atualmente - logo os rankings oficiais confirmarão isso, mesmo que perca o Mundial de Clubes. Mas não estamos diante de um "melhor do planeta" como o foi o Barcelona de Guardiola, no auge de Messi, Xavi e Iniesta, por exemplo. Ou no estilo do Real Madrid da primeira passagem de Zidane como técnico, com Cristiano Ronaldo voando cercado por um batalhão de coadjuvantes de luxo. Esse dois exemplos humilharam os demais gigantes europeus nos anos em que dominaram o futebol.

A superioridade do Chelsea hoje não está nesse nível. Por isso, o Palmeiras pode sonhar. Desde que não chegue lá e entregue a paçoca para o representante da Concaf (confederação das Américas Central e do Norte) na semifinal novamente. Não adianta nada o palmeirense tentar diminuir o segundo título mundial do Corinthians em 2012 alegando que o rival só venceu porque era o Chelsea (olha que coincidência), um gigante "menor" da Europa, desfalcado de sua principal estrela à época, o atacante marfinense Didier Drogba, e chegar o seu tão altivo e glorioso Palmeiras lá pra tomar fumo (outra expressão bem baiana) de um time como o Tigres do México, como aconteceu no ano passado.

Fiquei frustrado achando que teríamos um interessante duelo América do Sul x Europa no Mundial de Clubes, com o Bayern de Monique voando num jogão aonde o sul-americano alviverde iria buscar de dentro todas as suas forças pra tentar vencer... aí o Palmeiras foi lá e pediu penico pra fazer um número 2 bem mole sem nem se classificar para a decisão. Por favor, desta vez dê-nos o prazer de uma final de Mundial de Clubes decente pra assistir!

Eu digo que a Europa já ganhou porque esta última decisão de Libertadores provou que eu estava errado. Sim, o Rei da Bahia FC em comentários sobre as rodadas do Campeonato Brasileiro de edições anteriores tirou sarro dos comentaristas da grande imprensa que puxavam o saco (até a última gota de sêmen ser puxada para fora) de treinadores estrangeiros alegavam que os treinadores brasileiros estavam ultrapassados e incapazes de atingir um futebol bem jogado, realmente competitivo. Dou o braço a torcer! A vitória do Palmeiras treinado pelo português Abel Ferreira no sábado foi o episódio final de todos meus argumentos. Vimos em campo o último treinador brasileiro considerado como "competente" cair perante o trabalho inegavelmente superior de um técnico estrangeiro.

Ficou visível desde as primeiras jogadas da decisão da Libertadores o abismo da diferença no

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras

desempenho dos técnicos. Para começo de conversa, o Palmeiras planejou (muito!) melhor a decisão do que o rubro-negro carioca. Enquanto o Flamengo focou seus esforços para levar a campo seus principais nomes devido a lesões, o alviverde paulista se focou em usar o Brasileirão para identificar e corrigir problemas além de dar ritmo aos jogadores que estariam na final. E isso foi decisivo no sábado (27). O técnico português Abel Ferreira chegou com um time afiado do ponto de vista tático e do ponto de vista do desempenho físico dos jogadores.

Todos os jogadores do Palmeiras que começaram e que foram entrando na partida, vinham figurando no brasileirão e estavam com ritmo de jogo em dia. O Flamengo levou a campo pelos menos dois jogadores abaixo nesse quesito. Felipe Luís e Arrascaeta não tinham ritmo de jogo. Com dois jogadores a menos na transpiração, o Flamengo viu o Palmeiras abrir o placar logo no início do jogo, com Raphael Veiga. O time carioca sentiu o golpe, e foi ai o único erro do Campeão na decisão. Não aproveitou o balanço da adversário para fazer seu segundo gol, que mataria a partida para o Flamengo.

Em vez disso foi recuando as linhas defensivas e no segundo tempo desceu do nível da compactação eficiente para a retranca com domínio territorial do adversário. Foi onde o Flamengo conseguiu achar espaço para o gol de empate. Arrascaeta melhorou seu rendimento devido a essa baixada na guarda que o Palmeiras deu. Já Felipe Luís saiu machucado, pouco ajudou o time e sua presença na escalação titular dificultou o Flamengo encontrar uma melhor distribuição no jogo. Arrascaeta teve melhora, mas logo a condição física ainda sem ritmo o tornou de novo um jogador a menos no vai e vem frenético da partida.

Renato demorou a sacá-lo, assim como demorou a colocar Michael na partida, meia atacante que vinha jogando de titular no Brasileirão com ótimas atuações. Mas foi preterido porque Arrascaeta tinha mais "grife" do que ele. Do outro lado, quando Abel percebeu que seus homens de frente perderam pique no primeiro combate à saída de bola do adversário, sacou um dos ídolos do clube, Dudu, e colocou o questionado, porém descansado, Deiverson - ironicamente, o autor do gol da vitória alviverde. Essa foi a diferença básica. O Palmeiras tem um treinador europeu que pratica um futebol de vanguarda no Palmeiras.

Renato, técnico do Flamengo na decisão da Liberta
No futebol mais avançado, não importa qual o tamanho do nome do jogador ou quão craque e importante ele é. Entram em campo para as decisões aqueles que estão com ritmo e rendimento bom. Na mentalidade do futebol brasileiro, o jogador tem que entrar para a decisão porque ele tem status de craque no time - mesmo que venha de lesão e que esteja sem ritmo de jogo. Em vez do Flamengo focar no Brasileirão em deixar o esquema afiado com os jogadores que estavam atuando, gastou forças para colocar Arrascaeta em campo só porque ele é o Arrascaeta.

Já perdemos uma Copa do Mundo com essa visão atrasada que nos e peculiar. Na última edição do Mundial em 2018, Felipe Luís (olha mais uma coincidência) vinha muito bem na lateral esquerda, ajudando o Brasil a ter equilíbrio entre a defesa e o ataque. Antes das quartas, o titular da posição se recuperou de lesão e reivindicou seu lugar no time titular. O técnico Tite atendeu só porque se tratava de "Marcelo", lateral "craque" destaque do Real Madrid. Resultado, o primeiro gol da desclassificação do Brasil saiu pela direita do ataque, porque Marcelo "o Grande" estava sem ritmo de jogo e não conseguia recompor seu lado do campo quando o Brasil perdia a bola.

Renato, o técnico brasileiro, apostou no nome de Arrascaeta. Abel, o técnico estrangeiro, sacou o nome de Dudu cheio de status e botou em campo o autor do gol do título. Foi uma vitória europeia nessa final de Libertadores. Foi a vitória do planejamento bem feito e da escolha dos jogadores por desempenho sobre o a atrasada mentalidade brasileira sobre futebol. Foi um fato visível em campo. Ah sim, o Flamengo teve chances antes e depois de empatar o jogo, poderia até mesmo ter saído vencedor ou levado a partida para os pênaltis - aonde tiraria da disputa a organização moderna palmeirense.

Mas esses foram oásis de esperança rubro-negra frente a uma superioridade tática que fez do Palmeiras o dono da decisão em quase todos os momentos da partida. Tudo bem também que o gol decisivo saiu de uma pixotada do Andreas Pereira. Não dá para culpar o técnico por um erro individual. Mas no contexto da partida, o Europeu engoliu de novo o Sul-americano. Já são 3 Libertadores seguidas vencidas por um técnico europeu. Os dois portugueses que passaram pelos dois maiores do Brasil na atualidade, Jorge Jesus no Flamengo em 2019, e Abel Ferreira, 2020 e 2021, deixaram claro como a nossa visão de futebol está sim defasada! 

Nossos técnicos, bem como nossa mentalidade geral para o futebol, está parada no tempo, acreditando em uma ressurreição natural da superioridade brasileira nesse esporte, enquanto a Europa vem trabalhando, aprimorando, mesclando e gerando novos conceitos de um futebol verdadeiramente profissional e pleno. A América do Sul nem precisou ir ao Mundial de clubes para ser derrotada pelo futebol europeu nos últimos 3 anos. Foi derrotada aqui por técnicos menores do futebol europeu. Tanto Jesus como Abel não estavam na mira de nenhum gigante do seu continente. Se estivessem em times maiores da Uefa, não teriam vindo treinar times brasileiros.

Ou seja, estamos inferiores a tal ponto que a rebarba dos treinadores de lá vem aqui e fazem a festa, conquistando taças facilmente Como nunca nenhum treinador brasileiro conseguiu. A única exceção é o Mundial de Clubes, aonde se Abel não for campeão agora, ficará abaixo do atual técnico da Seleção Brasileira, Tite, o último técnico brasileiro a conseguir vencer um campeão europeu comandando um time brasileiro. 

Essa final da Libertadores nos disse a verdade nua e crua: no Mundial de Clubes vamos assistir a uma

Jogadores do Palmeiras levantam a taça do tri da América

vitória europeia, mesmo que o Palmeiras vença o torneio. O Brasil já não sabe mais pensar o futebol. Palmeirenses torcerão para o seu "portuga" multivencedor. Os demais brasileiros, especialmente flamenguistas e corintianos, vão roer as unhas para o Chelsea impedir o primeiro título mundial do Palmeiras. 

Nossas alegrias e tristezas no futebol estão nas mãos e nos pés dos europeus! Enquanto eu escrevia isto aqui a sensação era de que a Alemanha fazia mais um gol (ate hoje!)... 

Paolo Gutiérrez é poeta acadêmico e eterno amante do futebol.                              

Fontes: Wikipédia e Google Search