Ontem à noite (26), desde as 21h30, o Atlético Mineiro (Galo) recebeu, no estádio Mineirão, o Colón da Argentina, pelo segundo jogo de ida da semifinal da Copa Sul-americana de futebol. O jogo foi 2 a 1 para o Galo, devolvendo a derrota no jogo de ida, na Argentina, na semana passada, também por 2 a 1. Como houve igualdade em todos os critérios de desempate, a decisão foi para os pênaltis. E o Colón levou a melhor, vencendo por 4 a 3, se classificando para a grande final da competição, a ser disputada em jogo único, no estádio Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai, no dia 09/11.
[Clique aqui e veja como foi a partida!]
|
Foto: EFE / Yuri Edmundo Jogadores do Colón comemoram classificação |
O adversário é Independiente del Valle, que eliminou o Corinthians com ampla facilidade na última quarta (25).Essa final cala boa parte dos comentaristas brasileiros, que apostavam na presença dos dois times brasileiros na final da Sul-americana. As apostas, desde que se formaram as chaves para a semifinal era de que Atlético e Corinthians fariam uma inédita final brasileir ana competição. Muitos já davam como pedra cantada essa final desde as oitavas de final, na verdade. Em algum momento, se imaginou diferente, mas com o Fluminense no lugar do Corinthians. Mais uma vez a suposta superioridade de do futebol brasileiro sobre os demais países da América do Sul foi derrubada de maneira inequívoca.
A grande verdade é que nossa economia mais forte (ou menos fraca, seria preferível dizer) aqui no continente futebolístico, que supostamente faz de nossos clubes mais ricos do que os dos demais países vizinhos aqui na região (como gosta de frisar amiúde o comentarista Fábio Sormani, por exemplo, no canal de TV por assinatura Fox Sports) não garante nada dentro de campo. Não podemos ter a postura de que toda vez que os times brasileiros têm pela frente duelos com equatorianos, colombianos, venezuelanos e (até mesmo alguns) argentinos, etc., imaginar que os favortiros são SEMPRE os clubes brasileiros. Este ano, foi um bom exemplo disso.
Além dessa final já definida da Sul-americana, aonde um clube equatoriano e um clube argentino menor desbancaram dois brasileiros considerados gigantes, tivemos duelos aonde a supremacia brasileira não passa de um devaneio de nossa arrogância futebolística. Na outra competição continental, a Libertadores, o poderoso São Paulo foi derrotado pelo modesto Talleres, outro pequeno da Argentina, no mata-mata antes da fase de grupos da competição. Não passou da fase pré-inicial do torneio. Isso porque na Sul-americana do ano passado, o mesmo São Paulo foi eliminado também na fase inicial pelo Defensa y Justicia, outro time menor argentino.
Vejam o mesmo Corinthians, eliminado ontem, na história das competições continentais já foi eliminado pelo Deportes Tolima na pré-libertadores de 2010 (um time mediano da Colômbia), pelo Guaraní do Paraguai nas oitavas da Libertadores de 2015 (emendando outra eliminação na mesma fase na ano seguinte para o Nacional, time tradicional do Uruguai, mas que vive momentos de baixa em sua história sem conseguir montar grandes elencos). Na Sul-americana, o Timão já foi eliminado nas oitavas pelo Pumas do México, em 2005.
O Palmeiras este ano, na Libertadores, foi eliminado pelo Grêmio nas quartas, mas passou sufoco com o inócuo Godoy Cruz (outro pequeno da Argentina), chegando a quase perder o primeiro jogo e só conseguindo deslanchar na partida de volta após um pênalti duvidoso marcado para o time brasileiro. O Grêmio está classificado para a semifinal da Libertadores deste ano, mas por pouco não foi eliminado na fase de grupos pelo Libertad do Paraguai.
Até o time que está encantando na atualidade, o Flamengo, chegou ä semifinal da Libertadores este ano tendo quase sido eliminado pelo Emelec, do Equador. O primeiro jogo foi 2 a 0 para os equatorianos, sendo que o rubro-negro carioca devolveu o placar no Maracanã e se classificou nos pênaltis de forma dramática. Emelec, aliás, que já eliminou o Flamengo nas oitavas da Libertadores de 2012.
Números contra a soberba brasileira
Se olharmos os números das competições continentais da qual faz parte o Brasil, veremos outra prova de como passamos vergonha com nosso salto alto com relação aos nossos vizinhos. Na
Copa Sul-americana, os maiores campeões são o Boca Júniors e o Independiente da Argentina. Argentina que tem o dobro de títulos do Brasil no torneio, sendo o país mais vencedor com 8 conquistas ao todo.
Na
Libertadores, novamente os argentinos demonstram supremacia. Independiente é o maior campeão, com 7 títulos, seguido por Boca Júniors, com 6. Na sequência, Peñarol, do Uruguai tem 5, Estudiantes e River Plate tem 4 cada um, e então parecem os maiores campeões do Brasil, com 3 títulos - São Paulo, Santos e Grêmio -, empatados com Olímpia do Paraguai e Nacional do Uruguai. A Argentina, maior campeã, tem ao todo 25 títulos, contra 18 do Brasil (para alcançá-los teríamos que vencer 7 anos consecutivos, um evento que nunca aconteceu e altamente improvável).
Até em indicadores teoricamente menos importantes (o que importa é ganhar títulos) estamos atrás de outros países na maior competição da América do Sul. Em número de participações de um clube, os que mais se classificaram para uma Libertadores em toda a história são os uruguaios Peñarol e Nacional, com 47 participações cada. Na sequûencia vem os paraguaios Olímpia , com 41 participações, e Cerro Portenho, com 40. Seguindo o ranking, o River Plate é o argentino que mais vezes participou, com 35, o Sporting Cristal do Peru, tem 34, o Colo Colo do Chile tem 33, e o Bolívar da Bolívia, com 32.
Só na 17ª colocação é que aparecem os brasileiros com mais classificações - São Paulo, Grêmio e Palmeiras -, 19 cada um.
As maiores goleadas do torneio foram do uruguaio Pañarol, em 1970 (com 11 a 2 sobre o Valencia da Venezuela), do argentino River Plate nesse mesmo ano (com 9 a 0 sobre o Universitário da Bolívia) e depois novamente do Peñarol, no ano seguinte (também 9 a 0 sobre o The Strongest da Bolívia). Na 4ª colocação, é que aparece o Santos, tendo batido o Cerro Porteño por 9 a 1 em 1962. Cerro Porteño que também foi goleado por 8 a 2 pelo Corinthians em 2000 - goleada que não entra no grupo das 8 maiores da competição. Os times que mais venceram partidas em Libertadores em todos os tempos e que marcaram mais pontos são o River Plate da Argentina, com 166 vitórias e 584 pontos, o Nacional do Uruguai com 159 vitórias e 580 pontos, o Peñarol também do Uruguai, com 158 vitórias e 552 pontos.
Só na 8ª colocação aparece o Grêmio com 95 vitórias e 323 pontos - bem distante dos primeiros colocados.
|
Daniel Onega |
Até no ranking dos grandes artilheiros precisamos comer feijão para chegar ao topo. O maior artilheiro, em números absolutos, é o equatorinao Alberto Spencer, com 54 gols, seguido pelos uruguaios Fernando Morena, com 37 gols, e Pedro Rocha, com 36. Em quarto lugar está o argentino Daniel Onega, com 31 gols, sendo ele o maior artilheiro em uma edição, com 17 gols na Libertadores de 1966.
Só na 7ª colocação aparece um brasileiro, Luizão, com 29 gols.
Por fim, na
Recopa Sul-americana, o torneio que decide o número 1 do ranking do continente, disputado em apenas uma decisão entre os campeões da Libertadores e da Sul-americana do ano anterior em que é disputada, os argentinos também dominam. O Boca Júniors tem 4 e o River Plate tem 3, contra 2 títulos de São Paulo, Internacional e Grêmio, cada um.
Conclusão óbvia
Os números estão ai e provam que ontem ou hoje o Brasil não tem nenhum motivo para ser favorito em nenhum embate contra times dos outros países sul-americanos. Por isso, comentaristas e times brasileiros, parem de achar que é fácil, porque não é. Nas competições da Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol, entidade responsável por promover nossos torneios continentais), a superioridade do Brasil no futebol NÃO EXISTE! De uma maneira geral, os outros países daqui de nossa região do planeta sabem jogar esses torneios e nós não. A primeira lição para atingirmos esse nível de conhecimento estamos nos recusando a aprendê-la sistematicamente ao longo do tempo.
Antes da raça, da catimba, do controle psicológico, da riqueza financeira e do bom futebol a humildade é necessária para se entender o que é o verdadeiro espírito das disputas sul-americanas.
Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.
Fontes: Site Globo.com, Google Search e Wikipédia.