O FLAMENGO E A DOCE ARMADILHA DA ALCUNHA DO “FUTEBOL MAIS BONITO”

Foto: Alexandre Vidal & Marcelo Cortes / Flamengo
Flamengo, o maior time de todos os tempos da última semana,
como diria o comentarista da Fox Sports, PVC

Hoje na imprensa esportiva o grande debate circula em torno do futebol de resultados e desempenhos avassaladores apresentados pelo Flamengo. Nos últimos jogos, goleou o maior rival, o Vasco, por 4 a 1, já tinha derrotado anteriormente outro grande opositor no Rio de Janeiro, o Botafogo, com resultado mais apertado, 3 a 2, mas com um rendimento de encher os olhos.

 Vem de duas batalhas na competição maior da temporada com vitórias sensacionais, eliminou o Emelec do Equador depois de ter perdido a primeira partida por 2 a 0 e ter corrido o risco de ser eliminado precocemente (uma virada emocionante) e desclassificou o Internacional construindo a vantagem com a autoridade que dispensa comentários de um 2 a 0 no Maracanã no jogo de ida, administrado com sobras no 1 a 1 da volta – poderia ter vencido a partida.

Após eliminar o Palmeiras da Libertadores com uma bela virada na última semana, o técnico do Grêmio, Renato Portaluppi, afirmou, sem nenhuma  sombra de receio, que seu time – o tricolor gaúcho – joga “o futebol mais bonito do Brasil”. A jornalistada, que já não gosta do furdunço, começou a polemizar, levando a posição de Renato à apreciação do técnico do Flamengo, o português Jorge Jesus (o ‘Míster’). Este teve menos dúvida ainda em rebater o treinador gremista afirmando que quem tem o futebol mais bonito do Brasil “para mim é o Flamengo”.

  

Na sequência, no último domingo (1), em partida válida pela 17ᵃ rodada do Campeonato Brasileiro, o Rubro-negro carioca ATROPELOU o Palmeiras, no Maracanã, com 3 a 0, com direito a ‘olé’ da torcida e pedaladas de firula de Gabriel Barbosa nas barbas do Pit Bull Felipe Melo. Podia ter sido pior! Um 5 a 0 não teria sido absurdo como placar final. A vitória colocou a equipa do Míster na liderança da competição, empatado em pontos com o Santos.

Então, diante da polêmica recente, o Flamengo está jogando, agora, um futebol merecedor da coroa de “mais bonito do Brasil”? Nos sentimos seriamente tentados a dizer que sim, mas é necessário pontuar algumas questões, que aos olhos da envaidecida torcida Urubú (já dizendo que seu time joga o melhor futebol até do mundo) serão chorumelas de anti, mimimi de quem está com inveja. Pode até ser, mas não abro mão do meu sagrado direito à opinião, assim como os rivais da pomposa saga flamenguista ainda não desistiram de derrota-lo.

Primeiramente, Jorge Jesus chegou há pouco no Flamengo e ainda está se adaptando ao futebol brasileiro. Ele rodou muito pouco o elenco, mesmo em jogos menos importantes, e isso foi positivo até agora porque o time passou mais tempo em contato com seu método de treinamento, mas pode ser um tiro pela culatra em médio prazo. Aqui é diferente da Europa, a dificuldade na temporada é maior aqui do que lá, porque a quantidade de jogos difíceis é maior. Isso resulta em desgaste maior e ele pode perder peças importantes nas horas decisivas – imagina o super elenco do futebol mais gato do país perdendo Bruno Henrique por uma lesão muscular, e não podendo contar com seu maior provedor do ataque, que participa de quase todos os gols da equipa, por exemplo.

O Flamengo tem mais gols do que todos os times do país, mas no último jogo pela Libertadores, o artilheiro perito em empurrar a bola pra dentro das redes – e em humilhar seus adversários quando está por cima da carne seca –  perdeu dois gols na cara, o que dariam vida fácil contra o Internacional já no primeiro tempo. Ao invés disso, Gabigol, permitiu o jogo ir para intervalo em 0 a 0, o Inter abriu o placar na metade do segundo tempo e ai o time carioca correu algum risco – o Colorado poderia ter chegado ao segundo e levado a decisão para os pênaltis. A marra de seu artilheiro pode dar munição ao adversário. Imagina esse vacilo contra o Grêmio na hora da semifinal da Liberta?

E mais! Rodrigo Caio, considerado um ótimo zagueiro pela crítica, é o calcanhar de Aquiles da defesa. Digo isso porque antes de chegarem Rafinha, Felipe Luís, Gerson e Pablo Marí, a defesa do Urubu tinha Rodrigo Caio como sua figura central e o time tomava muitos gols, em horas decisivas inclusive. Se eu fosse Renato, colocaria Everton Cebolinha em cima do super Rodrigo, e ali lhe achará a Kriptonita por onde pode sair o gol decisivo.

E outra, o goleiro do Flamengo, Diego Alves é altamente inseguro. A melhora do sistema defensivo com as novas contratações já citadas, mascararam também as falhas deste atleta, a exemplo de Maximus Rodrigo. O gol do Inter na quarta foi no cantinho onde ele estava mais próximo e aonde qualquer chute de um coroa de 80 anos com distensão muscular na perna de apoio entra. Eu sendo o Grêmio treinava o time todo para chutar ali e encontrar a felicidade sem nenhum obstáculo.

Fora isso, algumas vitórias merecem destaque pela sorte arbitral. No jogo com o Botafogo, por exemplo, o juiz deixou de expulsar Rafinha em duas entradas criminosas, sendo que ele teve participação decisiva no gol da vitória – marcado após os lances polêmicos. Também envolvendo Rafinha, no jogo com o Emelec o Flamengo abriu o placar com um pênalti inexistente marcado pela arbitragem em cima do lateral. Não querendo diminuir esses resultados, onde time da Gávea ganhou com méritos, mas um apito amigo não costuma acontecer contra Boca Jrs ou River Plate em competições da Conmebol. E mesmo contra o Grêmio, não dá para contar muito com essa sorte arbitral.

E agora o fator principal. A coroa de “Futebol mais Bonito do Brasil” não convém ao Flamengo. Renato falar isso do Grêmio é uma coisa, ele já ganhou a Libertadores nessa passagem dele pelo clube gaúcho. Se perder, o trabalho dele já está na história da agremiação. O Grêmio de Futebol Portaluppense já lhe deu até estátua pelas glórias recentes. Mas o Flamengo não! Se achar o maioral agora a esta altura pode dar um sapato alto bem propício a quedas tendo o nariz fraturado e alguns dentes a menos como resultado.

E o maior exemplo disso é o mesmíssimo ultra Palmeiras que acabou de ser goleado pelo Flamengo. Ano passado, o alviverde perdeu o Campeonato Paulista para seu maior rival, o Corinthians, em plena Alizanz Arena. Ao invés de assumir que perdeu e olhar as falhas que o time tinha, o presidente do time, Maurício Galiotte, foi à imprensa dizer que o Palmeiras “maior que esse Paulistinha” e que o torcedor podia ficar tranquilo, porque o time ia conquistar títulos “importantes”. Atribuiu o mandatário a derrota no estadual do ano passado a uma polêmica da arbitragem, que tinha marcado pênalti contra o Corinthians e voltou (corretamente) atrás.

Foto: site Trivela.com
Crise no Palmeiras: Freud explica!

Foi a soberba do ‘somos superiores e só perdemos porque fomos roubados’. Não! O Palmeiras perdeu porque seus jogadores fraquejaram no psicológico na hora de decidir! O time só consegue desenvolver futebol competitivo quando está numa zona de conforto quanto à tensão que um jogo de futebol envolve. À mínima ameaça aos seus objetivos nas decisões, o time A-MA-RE-LA! Os dois jogos contra o Godoy Cruz da Argentina mostraram isso nas oitavas da Liberta deste ano. O Alviverde extremamente superior em todos os sentidos só conseguiu deslanchar na partida decisiva quando a arbitragem lhe deu um pênalti que com gentileza muita chamamos de ‘duvidoso’. Enquanto o jogo estava em 0 a 0, o pequeno clube hermano deixava os palmeirenses tensos em campo, mesmo mostrando uma capacidade nula para ameaçar o gol da equipe brasileira.

Claro, o Flamengo mostrou um futebol exuberante nos últimos jogos. A dominância conseguida em cima de adversários muito qualificados é inquestionável. O equilíbrio entre todos os setores do time o deixam, neste momento, acima do Grêmio, do Boca Júniors e até do River Plate. Mais querer ostentar a posição de “melhor de todos” pode ser o caminho para a derrota.

E ninguém me tira da cabeça que Renato Portaluppi pode ter lançado essa isca propositalmente. Por enquanto, o Flamengo a está comendo com katshup e azeite de oliva, achando uma delícia. Lembrem-se, urubus, o sábio Muricy Ramalho já disse uma vez e isso é certo, "a bola pune!".

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.

Fontes: programação Fox Sports, site Goal.com e Site Trivela.com