quarta-feira, 25 de setembro de 2019

RAFAELA SILVA TESTA POSITIVO NÃO SÓ NO ANTIDOPING

Foto: Wilton Junior / Estadão Conteúdo
 Rafaela Silva, ao tomar conhecimento da punição
A judoca Rafaela Silva, um dos maiores nome do esporte feminino brasileiro da atualidade, testou positivo em exame antidoping feito pela Panam Sports, entidade responsável pela fiscalização da condição legal dos atletas para competir nos jogos Panamericanos, com relação ao uso de substâncias para melhorar a performance. O anúncio foi feito ontem (25), de acordo divulgado na imprensa. Com o resultado, a atleta perdeu a medalha de ouro conquistada nesta última edição, neste ano, em Lima (Peru), na categoria até 57kg. Deve perder ainda uma outra medalha de bronze. A entidade informou ainda que houve um total de 15 casos de atletas testando positivo, modificando os resultados oficiais da competição.

A substância detectada no sangue de Rafaela é o fenoterol, usado como broncodilatador. O medicamento ministrado a crianças com dificuldade respiratória provocada por asma, aumentaria o calibre das vias respiratórias após o relaxamento dos brônquios. Como efeito, a atleta suporta mais o cansaço durante os combates do torneio, tendo uma vantagem indevida sobre as competidoras que não fizeram uso de nenhuma substância potencializadora do desempenho natural. 

A judoca se justificou dizendo que teve contato próximo como uma criança que estava sendo tratada com um remédio que possui a substância proibida nos jogos. Ela agora  terá um longo caminho para recuperar sua imagem ou mesmo provar sua inocência. 

O que permanece do "mito" da atleta

Falando em opinião pessoal, eu não me importo com o que aconteceu. Se Rafaela diz a verdade e não usou de ardil para ter vantagem na competição, então ela foi vítima de um acaso e a verdade prevalecerá, libertando-a de alguma provação que tenha sido acarretada. Se ela não diz a verdade e tiver tentado trapacear nos Jogos Panamericanos, pois que já terá pago por seu erro penitência suficiente para compensar o mal feito. 

A questão mais importante é observar o que fica da atleta e ídolo do esporte brasileiro que ela se tornou. Rafaela vem de uma infância pobre na favela da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Ela conheceu o Judô em um projeto de aulas gratuitas promovido pelo medalhista olímpico e ex-judoca, Flávio Canto. E como atleta enfrentou dificuldades, preconceito, racismo e os altos e baixos que são típicos de todo atleta profissional.

Entre os títulos e medalhas conquistados nesse caminho, ela marcou a História do esporte do país ao se tornar a primeira judoca brasileira campeã mundial, em 2013, e ao conquistar a medalha de ouro nos jogos Olímpicos do Rio, em 2016, na categoria até 57 kg.  Esses títulos lhe deram a posição de símbolo de dedicação e superação. Uma mulher negra, pobre e que namora outras mulheres, sendo casada com uma inclusive.

Ela é vencedora mesmo sendo uma humana encaixada em tudo o que a sociedade atual discrimina e menospreza. Ela tem uma origem que costuma relegar as pessoas a uma vida de poucas oportunidades, mas ela chegou ao topo do mundo pelas artes marciais, jogando por terra a lógica dos discursos discriminatórios de sexo, classe social, orientação sexual e (claro) cor de pele. Negras, pobres, lésbicas também merecem oportunidades melhores na vida e Rafaela Silva é uma prova viva disso, uma prova viva de que os preconceitos deste país estão errados em suas convicções. 

Se não fosse assim, como ela chegou ao lugar mais alto da glória esportiva mundial? Enfim, Rafaela é aquela pessoa cujo sucesso mostra que não há negros, brancos, pardos, asiáticos, etc.. O que há são seres humanos. Mas este antidoping positivo de agora vai anular isso tudo? Não há dúvida que ele lança uma sombra na trajetória da brilhante atleta. Mas o que fica à luz depois disso tudo?

Mais que o reconhecimento da atleta, o da pessoa

Pois bem, meu voto é para que se considere perpétuo todo esse legado que a humana Rafaela Silva construiu com a sua luta - dentro e fora do tatame. Sou favorável a que não se permita perder essa oportunidade de sermos uma espécie melhor quando pessoas como ela vencem na vida. Continuemos discutindo como é importante que todas as pessoas tenham oportunidade. 

Afinal, sem o projeto de Flávio Canto, Rafaela poderia ter se perdido na vida, entrado pra criminalidade ou virando usuária de drogas pesadas. Como o povo diz por ai, poderia estar  matando ou roubando, mas não, foi virar multi-campeã de Judô.

Por isso, o que deve ficar em pé no vendaval desse antidoping positivo é justamente tudo o que eu acabei de citar até aqui. A história de sua vida, a vitória sobre a falta de garantia dos direitos humanos de grandes maiorias, como as que vivem nas favelas similares à de sua origem.      

Que ela tenha testado positivo não só no antidoping. Que ela tenha testado positivo também como uma ser humana passível de admiração e de perdão - SE for este o caso. E só para fazer um importante registro, eu acredito em sua inocência. 

Força, guerreira! Você vai superar mais essa! 

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.          

Fontes: Site Globo.com, Google Search e Wikipédia. 

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