sexta-feira, 20 de setembro de 2019

PROTESTO DA GAVIÕES DA FIEL GERA REFLEXÃO INTERESSANTE

Foto: Roberto Thomé/Record TV
São Paulo (SP) - Na manhã desta sexta (20), cerca de 100 torcedores da torcida uniformizada do Corinthians (Timão), a Gaviões da Fiel, se reuniram em frente ao Centro de Treinamento do time e fizeram um protesto contra a má fase do time. A insatisfação se deve à má fase do Timão em campo, consolidada na última derrota da equipe em casa, para o Independiente del Valle, do Equador, por 2 a 0, com direito a inquestionável superioridade do adversário em todos os sentidos - jogo que teve acompanhamento deste blog em Tempo Real.

Foi pelo jogo de ida da semifinal da Copa Sul-americana, único campeonato em que o Corinthians ainda alimenta (ou alimentava) esperança de título ainda em 2019. O jogo da volta será em Quito, com excesso de altitude (2.850 metros acima do mar) e falta de confiança e nenhum futebol digno de nota. [Clique aqui e veja mais detalhes da manifestação de hoje (20) da torcida do Corinthians!]

Não é exclusividade do Corinthians esse tipo de fenômeno social - o Palmeiras passou por isso este ano, o Fluminense, o Botafogo, o Cruzeiro, o Internacional e até o atualmente badalado Flamengo. Pixações, cânticos de insatisfação e até ameaças são acessórios de um pacote usual para as grandes equipes de nosso futebol que passam por momentos ruins na temporada. 

O mais relevante é a reflexão a que nos leva esse tipo de manifestação com relação à situação do país. Sou sempre o primeiro a dizer que o cenário político da nação e o futebol são características que deveriam obedecer a uma lógica de segunda lei de Mendel - são traços do mesmo organismo, mas que se segregam de forma independente.

Ano passado, na Copa do Mundo da Rússia, a Alemanha fez uma campanha pífia e os gênios daqui, sempre prontos a colocar a culpa de nossas desgraças estruturais na paixão da população pelo futebol, postaram memes irônicos parabenizando a Alemanha por ir ruim na Copa, mas de ter saúde, educação e segurança em nível evoluído. Volto a colocar o que disse para os sábios no ano passado, a Alemanha é um dos países do mundo que MAIS INVESTEM EM FUTEBOL, dando inclusive um banho no próprio Brasil nesse quesito.

Trocando em miúdos, podemos ser um país apaixonado por futebol e que exige dos governantes que cumpram suas promessas de campanha no nível apresentado pela computação gráfica do material de campanha - todos prometem o país do futuro, mas na realidade sempre permanecemos agarrados aos mesmos velhos problemas do passado - independente do partido que chegou ao poder desde 1989.

Mas na questão de protestar os "poetas" antifutebol tem a sua boa parcela de razão. Imagina ai, se os jogadores de um grande time começassem a entrar em campo machucados e se fosse constatado que a diretoria do clube está desviando dinheiro que era para o departamento médico para enriquecimento ilícito. Imagina ai as estruturas destinadas a cuidar das lesões dos jogadores sucateadas por falta de dinheiro enquanto o presidente do clube estivesse aumentando a olhos vistos, o que não aconteceria com o humor da torcida? 

Pensa ai, o clube rebaixado, contratando jogadores medianos e ainda atrasando o salário de todo mundo e a Gaviões (ou qualquer outra torcida de grande time do país) tivesse a perspectiva de que presidente e conselheiros andam fazendo farra de cocaína a ponto de precisar de remessas trazidas por helicópteros recheados de pó. A Gaviões não deixava o helicóptero nem pousar no CT Joaquim Grava.

Faz um exercício de imaginação um clube do tamanho do Corinthians passar por um perrengue de atrasar salário e tudo e para quitar as dívidas a diretoria chagasse a sugerir o aumento exorbitante na contribuição do sócio torcedor, aumento no valor do ingresso e sem garantir que o torcedor cativo tenha lugar na arquibancada garantido, e a torcida vendo os dirigentes do time mais ricos com a perspectiva de terem desviado o dinheiro para benefício próprio. No mínimo, os torcedores exigiriam a renúncia, com investigação policial e punição. 

Se o brasileiro ameaçasse de morte os gestores toda vez que se constatasse que o país está "perdendo o jogo" para o atraso e para os problemas da mesma maneira que se faz como no futebol quando o time está em má fase, como seria o nosso "futebol" nas outras áreas da vida? Se em toda fase ruim (sempre), a população fosse à frente dos palácios governamentais ameaçar os governantes com frases do tipo "ou governa por amor, ou governa por terror" ou "se o hospital não melhorar, o bicho vai pegar".

As torcidas fazem manifestações como essa do Corinthians hoje pela manhã porque amam tanto seus times e o futebol que se dispõem a tirar tempo do dia, recursos, se dispõem até ameaçar a vida de outra pessoa tamanha a dor das derrotas amiúde sofridas, temporada após temporada. 

Penso que deveríamos amar o país assim também. Nos falta raça corintiana nesse campeonato da vida coletiva e por isso estamos na zona de rebaixamento do desenvolvimento da nação, sem que a torcida nunca vá fazer protestos contra os responsáveis pelo mau desempenho em "campo".

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.

Fontes: Site Globo.com, Google Search, site esportes.r7.com e programação do Fox Sports.

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