Nesta última sexta, 28, foi divulgado pelo portal Terra o comunicado do Diário Oficial da União, no qual o Governo Federal anuncia o corte de verbas destinadas ao patrocínio de atletas de diversas modalidades no país. O programa Bolsa Atleta, que chegou a contemplar 6.667 atletas em 2014, agora beneficiará apenas 3.058 esportistas em 2019. Em 2018, eram 5.830 os beneficiados, o que representa uma queda de 47,55%. O valor destinado a esta ação era de R$ 79,3 milhões, agora será de R$ 53,6 milhões – queda de 32%.
O anúncio é um duro golpe para as pretensões do país nas Olimpíadas de Tokyo, a serem realizadas no Japão em 2020. Na última edição dos jogos, aqui no Rio de Janeiro, em 2016, o Brasil conquistou 19 medalhas, sendo 7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze. Esse número deve cair nos jogos seguintes, assim como o desempenho do esporte em geral no grande circuito das competições mundiais.
Aposta arriscada do governo
O Rei da Bahia FC não comenta política, mas é necessário ver a atual tendência que chega ao poder para entender a lógica na atitude do governo (neste momento em transição) perante a questão. Nos Estados Unidos da América (EUA), país que será o grande parâmetro do Brasil nos próximos anos, o esporte segue o modelo do estado mínimo. Isso mesmo, o grande vencedor em todas as Olimpíadas da era moderna não usa – pelo menos não oficialmente – um único centavo do governo para financiar atletas.
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Simone Bails, ginasta dos EUA Foto: Dylan Martinez / Reuters |
Por lá, a gestão do esporte abriu um fundo de investimento chamado de Team América, que capta recursos oriundos de doações particulares, licenciamento e venda de produtos, marketing e direitos de imagem. Com isso, na última Olimpíada aqui no Rio de Janeiro, em 2016, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos investiu cerca de R$ 475 milhões – 148 milhões de dólares, na cotação daquele ano.
Além disso, no esporte estadunidense, diversas empresas associam suas marcas a atletas de sucesso, lucrando milhões com esta modalidade de negócio. Dessa forma, os atletas mantêm um nível de esforço muito alto para se manterem competitivos, já que essas empresas só se interessam pelos vencedores efetivos – trocando em miúdos, os “perdedores” ficam de fora das fatias mais generosas dos recursos disponibilizados por empresas em contratos individuais.
Dá certo para os Estados Unidos, sempre vencendo no quadro geral medalhas em relação às demais potências – a grande exceção foi a Olimpíada de 2008, no qual a China superou os EUA nas medalhas de ouro, 51 contra 36, mas, ainda assim, no número total de medalhas os estadunidenses tiveram 110 contra 100 dos chineses. Em comparação com o Brasil (Aff!) Até hoje, os EUA ganharam 1000 medalhas de ouro contra apenas 30 do Brasil, contando desde a primeira Olimpíada da era moderna, em 1899.
Essa redução do Bolsa Atleta anunciada esta semana por nosso governo, pode ser já uma ação de transição visando adotar o modelo da maior potência do continente americano. Se for isso mesmo, a aposta é altamente arriscada para o esporte brasileiro. Nos EUA a cultura do esporte é muito forte. As escolas incentivam e investem nos atletas, tanto nos níveis fundamentais como nos superiores (universidades), oferecendo bolsas de estudos para alunos que seguem a vida de atletas.
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Cesar Cielo em Pequim 2008 Foto: Site Oficial Cesar Cielo |
E os empresários têm outra mentalidade com relação a investimentos. Por lá, as empresas, amparadas por uma economia relativamente pujante, são ávidas por investir em grandes atletas, o que gera um fluxo constante – e abundante – para os competidores de alto rendimento e de grandes resultados. Por aqui, um nadador como César Cielo, último grande campeão da nossa natação, com medalha de ouro nos 50 metros nado livre em 2008, chegou a ficar sem patrocínio nenhum em anos seguintes, mesmo sendo um atleta com gigante potencial de marketing e de retorno financeiro.
Conclusão: por aqui, nossos atletas dependem do dinheiro do governo para conseguir bons resultados. Diminuir o investimento vai prejudicar o desempenho do esporte brasileiro a olhos vistos.
Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA. Fontes: Portal Terra, Site Ovale, Site Ilisp.org, Site Cesar Cielo.com e Wikipédia.
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