quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

AS “ÔROPA” JÁ É AQUI!



Novo escudo do Athlético
Hoje, quarta (12) tem um jogaço logo mais à noite. O Atlético Paranaense, que mudou de escudo e alterou o nome – será “Athlético” Paranaense a partir de agora – decide a final da Copa Sulamericana 2018 contra o Junior Barranquilla (Colômbia), no estádio Arena da Baixada, em Curitiba, às 21h45, hora de Brasília. Há uma semana atrás, no jogo de ida, o Athlético não esteve tão bem em campo, mas, mesmo assim, empatou em 1 a 1, e agora decide em casa a segunda competição mais importante da América do Sul. Precisa vencer para se sagrar campeão. Em caso de empate, haverá prorrogação,  e, persistindo a igualdade no placar, teremos a adorável (só porque não é meu time que ta jogando) decisão por pênaltis.

Para o Athlético, ser campeão é conseguir uma premiação de aproximadamente R$ 25 milhões, classificação direta para a fase de grupos de um campeonatozinho que vai ter ai ano que vem, (ninguém menos que) a Libertadores de 2019, classificação para a decisão da Recopa Sulamericana, e ainda se classifica para a Copa Suruga, no Japão, torneio oficial realizado em jogo único contra o campeão da Copa da Liga Japonesa. O atualmente mais europeu dos brasileiros faz a sua segunda final em competições sulamericanas – em 2005 foi vice da Libertadores em disputa com o São Paulo.

Por que o “mais europeu” dos brasileiros? Este ano, o Athlético teve um técnico chamado Fernando Diniz, que tentou implementar uma filosofia de jogo na qual o time sai sempre jogando com passes, não importa o quanto o adversário pressione a saída de bola no campo de defesa – o normal é a equipe ficar acuada e, pra evitar perder a bola perto de seu próprio gol, dar um chutão pra frente.  Esse estilo de jogo é o mais comum na Europa, principalmente depois da era Guardiola à frente do Barcelona, entre 2008 e 2012. De fato, o popular chutão afasta o perigo da zaga, mas não garante a posse de bola para tentar chegar ao ataque com eficiência. Não acho errado que se copiem boas iniciativas do futebol de outros lugares e que se apliquem aqui. O problema é que isso é sintoma de uma doença do nosso futebol ganhando contornos de uma endemia, ano após ano. Perdemos o protagonismo no futebol moderno.

O Athlético está mudando de ícone na camisa. Saiu do tradicional escudo com as iniciais do clube para outro feito em detalhes simples com linhas retas grossas dispostas em um cone ao contrário, fazendo alusão a um furacão, apelido do time desde 1949. A mudança é muito similar à mudança recente que a Juventus da Itália promoveu em seu escudo – lá as retas grossas formam a letra ‘J’. Estamos deixando de criar para sermos cópias mal feitas do continente em que o futebol está evoluindo de verdade. Para além de uma semelhança de escudos. Deixamos de produzir craques no nível que produzíamos antes, o que está nos forçando a uma mudança no jeito de jogar. Estamos importando os conceitos europeus porque já não criamos conceitos próprios, nem mesmo osmoticamente pelo fato de revelarmos jogadores bons para dar e vender .

Nosso material humano caiu de nível a olhos vistos. Não vejo os atuais bons jogadores brasileiros, especialmente os que estão na Europa, no nível dos craques de gerações anteriores. Por exemplo, Gabriel Jesus, nosso último centroavante a ocupar a posição de goleador da seleção brasileira na Copa da Rússia este ano, está abaixo do nível que Careca, centroavante da seleção na Copa de 90, por muito. Phelippe Coutinho não está no nível de um Sócrates. Se a gente pegar o jogador que foi considerado o craque do Brasileirão este ano, Dudu, atacante do Palmeiras, ele não chega a algo parecido com Renato Gaucho. E por ai vamos em frente fácil. Temos algum meia no nível de Raí? No nível de Zico? No nível de Alex? Atacantes no nível de Edmundo ou Evair? De Sávio? Marcelinho Carioca? Estamos gerando algum nome da categoria de Ricardinho, César Sampaio ou Juninho Pernambucano? Temos jogadores bons, mas não estão no nível do que presenciamos na história geral do futebol brasileiro. O único que parece estar em algum patamar parecido é Neymar. E olha que só falei de jogadores antigos que não foram campeões do mundo com a seleção. Se formos perscrutar por alguém que chegue nos pés de Romário, Bebeto, Rivaldo ou Ronaldo Fenômeno, chegaremos ao patamar da frustração. Se formos falar de Rivelino, Pelé ou Garrincha então, cometeremos suicídio nos atirando do alto da sola de nossas Havaianas usadas.

Atual escudo da Juventus
Eu estou torcendo (muito!) para que o Athlético Paranaense seja campeão hoje. O Brasil está precisando reagir ao domínio da Argentina no futebol de clubes da América do Sul. O jeito do Furacão jogar me faz pensar que, nesses processo de hegemonia (assustadoramente crescente e perene) do Velho Continente em nosso amado esporte da bola chutada com os pés,  aqui já é as “Ôropa”. Não está errado clubes emergentes (e os já consolidados como grandes e gigantes também) como o Athlético buscarem a
vanguarda do futebol. Mas temos que voltar a fazer o futebol superior voltar a ser coisa da América do Sul, coisa do Brasil.

Ou investimos no esporte como se deve investir, ou não passaremos de uma imitação barata, uma “Ôropa” fazendo o papel de sombra para a Europa, hoje absoluta no futebol mundial. 

Paolo Gutiérrez é (meio) jornalista e amante do futebol.

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