quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

EUROPA REGISTRA MAIS UM “SUPER CASO” DE RACISMO NO FUTEBOL


Kalidou (dir.) indignado com o racismo
Mais um vergonhoso caso de racismo se soma à história do futebol mundial. Na tarde de ontem, 26, pela 18ª rodada do Campeonato Italiano, na vitória da Internazionale por  1 a 0 sobre o Napoli, no estádio San Siro, em Milão, o time da casa comemorou os 3 pontos valiosos para a tabela de classificação, porém cânticos racistas e imitações de macaco dirigidas ao zagueiro do time visitante, Kalidou Koulibaly, por grande parte da torcida presente ao estádio roubaram a cena.
Como os insultos racistas foram proferidos desde o início do duelo, o técnico do Napoli, Carlo Ancelotti, pediu (por três vezes) ao juiz da partida, Paolo Mazzoneli, que suspendesse o jogo, e, como não foi atendido, o zagueiro vítima do ato racista aplaudiu ironicamente o árbitro, que o expulsou por volta do 35 minutos do segundo tempo.
Até o presente momento, não houve notificações em toda a imprensa esportiva a respeito de punições ao time da casa ou sobre identificação dos envolvidos, com posteriores medidas cabíveis.

Triste rotina do racismo no futebol 

Infelizmente, todos os anos nos deparamos com acontecimentos como esse no futebol. Os casos mais contundentes vêm da Europa, mas acontece no mundo todo, inclusive no Brasil. O caso mais marcante em anos recentes foi em 2014, no dia 3 de setembro, no jogo Grêmio e Santos, na Arena Grêmio, em partida válida pelas oitavas de final da Copa do Brasil daquele ano. No jogo da volta (o Santos havia vencido por 2 a 0 no primeiro jogo uma semana atrás), goleiro do Santos, Mário Lúcio Duarte Costa, conhecido pelo apelido de ‘Aranha’, foi chamado por parte da torcida do Grêmio de “macaco”.
Patrícia (esq.) xingando Aranha

Torcedores gritavam enquanto imitavam um gorila. Na época as imagens flagraram claramente uma das torcedoras, Patrícia Moreira, gritando o xingamento racista para o goleiro. A torcedora não chegou a sofrer grandes punições pela injúria racial, que no Brasil é crime previsto em lei, mas passou a ser hostilizada nas ruas e nos ambientes que frequentava, tendo que apagar seus perfis em redes sociais e desaparecer por um tempo até os ânimos contra ela se acalmarem.

Alguns dos demais torcedores que ofenderam Aranha foram identificados e indiciados, junto com Patrícia. E o Grêmio foi excluído da competição, possibilitando ao Santos avançar às quartas naquela ocasião.

Está na hora de mudar a estratégia contra o racismo? 

Segundo a jornalista e Doutora em Educação, Marcilene Forechi, em texto divulgado no site Observatório da Imprensa, “ao apresentar determinados aspectos da realidade, sob a forma de notícias, o jornalismo constrói novas realidades e novos referentes”. Seguindo essa vertente, um caso muito citado em cursos de jornalismo é o da onda de violência contra idosos, nos EUA, em determinada época do século passado. Resumindo a história, casos desse tipo ganharam destaque na imprensa nacional daquele país. Logo os meios de comunicação estavam todos atentos a novos episódios desse tipo e os noticiavam com avidez, de maneira que a sociedade passou a olhar os fatos sob o rótulos de uma ‘onda de crimes contra idosos’. Quando um jornalista tentou levantar os dados estatísticos para fundamentar uma das muitas matérias que figuraram nos jornais da época, ele constatou uma surpresa: os crimes desse tipo entre um ano e outro, na verdade, haviam diminuído. A ‘onda’ tinha sido, na verdade, criada pela imprensa.

Claro que nenhuma mentira foi dita pelos meios nos casos citados – e geralmente está tudo certo. Mas, logo que um caso como esse surge, os jornalistas esportivos correm para seus notebooks e demais suportes de escrita para noticiar mais um “super” caso de racismo no futebol. A polêmica rende indignação, discussão, ampla repercussão (se não eu não estaria me desdobrando para escrever o presente texto que vos brindo), e, claro, audiência e mais dinheiro dos patrocinadores.

Mas, tendo em vista a responsabilidade social do jornalismo, essa maneira de divulgar os eventos não estaria servindo de palco para os torcedores racistas? Em vez de colaborar para diminuir os casos, não estaria servindo de uma espécie de espelho de narciso, e, portanto, até estimulando os atos racistas no futebol. Não estriamos dando a atenção que o Bugu do Bidu, lá nos quadrinhos de Maurício de Sousa (sim estou ficando velho, desnecessário será alguém me lembrar disso), tanto se esforça para ter e deixar o anonimato?

Daniel ainda mastigava ao cobrar escanteio
Vou mais fundo ainda. No campeonato Espanhol da temporada 2013/2014,no estádio El Madrigal, 27 de abril, pela 35ª rodada, o Villa Real perdeu por 3 a 2 de virada para o Barcelona. No segundo tempo, quando o lateral direito brasileiro, Daniel Alves, foi cobrar um escanteio, aos 30 minutos do segundo tempo, um torcedor jogou uma banana para ele que caiu no gramado. Daniel, com a maior naturalidade do mundo, mudou a trajetória de sua caminhada se agachou e pegou a banana do chão, a descascou e a comeu tranquilamente antes de cobrar o escanteio.

O gesto ganhou as manchetes de toda a imprensa esportiva (e não esportiva também) em todo o mundo, sendo interpretado como um tapa na cara do racismo por parte do brasileiro. O torcedor foi identificado como um dos funcionários do clube, foi demitido e banido de frequentar o estádio, para sempre. Então pergunto, não era hora também das vítimas mudarem a estratégia de reação perante o racismo? Não seria melhor devolver com uns “tapas na cara” no estilo de Daniel Alves?

Porque veja bem, a torcida da Internazionale neste caso com que abrimos esta matéria-artigo, queria desestabilizar emocionalmente o zagueiro do Napoli e contribuir com a vitória de seu time em campo. E deu certo! O zagueiro Kalidou Koulibaly foi expulso por ironizar o juiz aos 35 do segundo tempo, e o gol da vitória da Inter saiu aos 46 minutos do segundo tempo, com Lautaro Martinez. Se o zagueiro tivesse permanecido em campo, não poderia, de repente, ter impedido o gol e a derrota de seu time?
São questões que o Rei da Bahia FC deixa em aberto para discussão. 

Promovamos uma evolução de nossos cérebros refletindo sobre isso tudo (por favor!).

Paolo Gutiérrez é (3/4 de) jornalista e comentarista de futebol e MMA. 

Fontes: Site Bol/Uol, Globo.com, Site Resultados.com, Esporte.ig, Site Uol Esporte, Site UFRG NECCSO, Site Observatório da Imprensa e Site Mônica.wikia   

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