quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

VITÓRIA DO FLAMENGO EXPÕE FUNÇÃO SECUNDÁRIA DOS ESTADUAIS

Foto Ilustrativa:Divulgação Carioca
Rio de Janeiro (RJ) - Na noite de ontem, terça (29), no estádio Maracanã, o Flamengo derrotou o Boa Vista, por 3 a 1, gols de Henrique Dourado, Rodrigo Caio e Uribe. Pelo Boa Vista, Arthur descontou tirando o zero no placar para o time visitante. O jogo foi válido pela 4ª rodada do grupo C do Campeonato Carioca 2019 (clique aqui e confira a tabela completa). Essa vitória do Flamengo, da maneira como se deu, expôs, mais uma vez uma função secundária - não menos importante, é bom salientar - dos campeonatos estaduais para aqueles times que carregam consigo o peso e a glória do rótulo de 'gigantes do futebol brasileiro'. 

O time 'Golias' na disputa com 'Davi' esteve desencontrado em campo até a entrada de Éverton Ribeiro, aos 25 minutos do segundo tempo, que conseguiu, além do gol que fez, dar uma válvula de escape para um time que demonstrava pouca desenvoltura na transição da defesa para o ataque. É normal os gigantes começarem o ano ainda buscando um melhor encaixe para a maneira de jogar com os jogadores disponíveis. Nesse sentido, os campeonatos estaduais, por serem considerados 'menos importantes', são um ótimo laboratório para as equipes grandes fazerem ajustes logo no início da temporada. 

Mas essa "secundarização" dos estaduais está gerando um fator perigoso para o futebol brasileiro. Os estaduais são importantes para o nosso futebol para muito além disso. É o campeonato das rivalidades regionais, e isso por si já deveria colocá-los num patamar de valorização simbólica muito maior do que a opinião pública esportiva hoje lhe coloca. O estadual é um campeonato que vale a pena (sim!) disputar como se disputa uma competição da mais alta relevância.

Por que isso é perigoso? Na opinião (sem nenhuma humildade) deste blog Rei da Bahia FC, as competições no Brasil estão perdendo, ano após ano, força de imagem perante o público. Antigamente, decisões nos estaduais tinham uma aura de grandes confrontos, de alta tensão, as torcidas nervosas, o grito de gol abrindo caminho para a maravilhosa sensação da conquista do título. E esfregar o triunfo daquele pedacinho da história do futebol escrito com emoção e alegria na cara da torcida do rival. 

Enfim, alijamos dos estaduais a magia típica do futebol, e também a do futebol brasileiro. Como as coisas estão hoje, uma torcida comemora um título estadual e todo o restante do país (com a singela colaboração de vários membros da imprensa esportiva) falam como se aquele time não tivesse ganhado nada (?????!!!!!!) na temporada. Ou então ganha menos da metade de um reconhecimento: "tal time ganhou SÓ o estadual este ano, precisa salvar seu ano com outro título importante" - é uma declaração comum nos meios de comunicação e também país afora. 

E esse processo de sucateamento imagético, por assim dizer, está acontecendo com o Campeonato Brasileiro também. Veja que hoje em dia, os grandes times não jogam com seus elencos considerados principais na competição mais importante do país. A Copa do Brasil e a Libertadores é que ganham a prioridade.

Se o Brasileirão e os estaduais não têm 'graça', o futebol brasileiro perde muito com isso, dentro e fora de campo! Lá na Alemanha, na Liga das Bundas (apelido carinhoso deste blog para a Bundesliga, que é o nome do Campeonato Alemão), há muitos jogos entre times pequenos, verdadeiros nanicos no futebol mundial. Mas a presença de público bate 40 mil por jogo em média todo ano. Isso porque o país e o marketing da competição nacional levam a população a abraçar o seu campeonato local. E isso gera muitos lucros e trunfos para o futebol alemão como um todo. Ao ponto dos jogos entre times menores se tornarem épicos com alta carga emocional nas crônicas esportivas de todo o planeta.

Se o Rei da Bahia FC fosse o responsável pelos destinos do futebol brasileiro, fortalecia as competições nacionais. Ah, tem muito jogo no calendário, isso é um absurdo! Bota os times pequenos para disputar eliminatórias do estadual num ano e faz dessas competições regionais 'pequenas Copas do Mundo', com 8 ou 9 jogos no máximo. Faz promoção pra chamar as torcidas, divulga na imprensa como grandes confrontos ao longo do ano, dá desconto no comércio para quem paga inteira no estádio, coloca premiação multimilionária, dá um jeito de que todos tenham acesso a assistir às partidas. Você iria ver os brilhos nos olhos da molecada voltarem. Você veria a emoção dos grandes confrontos voltarem a contagiar o país em um uníssono não só em dia de jogo do Brasil na Copa.

Aí eu queria ver o país da 'Liga das Bundas' conseguir chegar aqui e meter 7 a 1 em nosso futebol!

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.

Fonte: Site Globo.com       

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