sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

FUTEBOL FEMININO PASSA A SER EXIGÊNCIA NA SÉRIE A DO BRASILEIRÃO



Foto: Wikipédia

Uma notícia importante chamou a atenção deste blog Rei da Bahia FC hoje, 4. De acordo com o site da Globo, a Confederação Brasileira deFutebol (CBF) divulgou uma nova regra para os 20 times que disputam a série A do Campeonato Brasileiro 2019. A partir de agora, os clubes de elite deverão, obrigatoriamente, ter um time de futebol feminino minimamente estruturado – tanto no profissional quanto na base. A exigência faz parte do Licenciamento de Clubes, sem o qual o time não poderá disputar no masculino a competição se não estiver em dia com as cláusulas.

Agora em 2019, a CBF não chegará ao ponto de suspender um dos clubes da elite do Brasileirão, assumindo, neste primeiro momento da nova regra, um papel de orientação e auxílio para que os times consigam atingir o nível exigido e para que criem o espaço para a modalidade feminina nos anos seguintes e por sempre. O método é adequado, até porque, a menos de 4 meses para o início do Brasileirão alguns times ainda estão na estaca zero para a criação de seus times femininos – muito embora seja possível também o clube se associar a alguma equipe de mulheres já existente.

Trabalho ainda em etapa inicial (e precária)


Dos vinte clubes da série A, sete possuem times femininos adultos em atividade – Corinthians, Ceará, Vasco, Grêmio, Internacional, Santos e Flamengo. Outros seis times têm projeto encaminhado – São Paulo, Chapecoense, Atlético Mineiro, CSA, Goiás e Bahia. No caso de Athlético Paranaense e Fluminense não há projeto ainda, mas teriam começado o planejamento, enquanto que Avaí, Palmeiras, Fortaleza, Botafogo e Cruzeiro ainda não começaram qualquer iniciativa para montar seus times femininos.

Mas a profissionalização ainda é um sonho distante para as mulheres praticantes do futebol. Apenas 4 clubes pagarão salário às suas jogadoras – Santos, Internacional, Grêmio e Corinthians. Os pagamentos ficarão entre R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) e R$ 4000,00 (quatro mil reais), valores baixos para um clube de série A de Brasileirão, mesmo quando falamos dos clubes mais pobres da elite. De acordo com levantamento da Folha, a média salarial de um jogador homem em todo o Brasil é de R$ 3.653,00 (três mil seiscentos e cinqüenta e três reais). Apenas 5% dos jogadores profissionais ganham salário acima de R$ 50mil por mês – jogadores da série A, em sua maioria.

Isto significa que a jogadora que ganhar mais, vestindo uma camisa de elite do futebol brasileiro, estará menos de um salário acima da média do que ganham jogadores em atividade pelos clubes de menor prestígio – séries B, C e D. Nesse ritmo, mesmo as garotas mais habilidosas, entre elas as craques de bola, não chegarão perto do que ganha um jogador considerado mediano (ou até perna de pau) entre os times de elite.

Uma bela vergonha na opinião deste blog, se nos é permitido opinar sobre a questão.

Iniciativa partiu de fora

Na verdade, não são nossos dirigentes daqui do Brasil que se sensibilizaram com a questão. A exigência está sendo colocada em rigor pela Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol), que por sua vez, está seguindo exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa), que exige dos continentes futebolísticos igualdade de tratamento quanto aos gêneros no futebol. A Conmebol já iniciou a cobrança em 2016, dando dois anos para os países atenderem ao regulamento, o que significa que, a partir de 2019, qualquer time que esteja classificado para a Copa Sul-americana e para a Libertadores da América (o maior torneio da América do Sul e que classifica para o Mundial de Clubes da Fifa) terão que ter futebol feminino já estruturado, sob pena de serem excluídos dessas competições.

Será mesmo que a Conmebol vai penalizar algum time por não ter times de mulheres? Só vendo para crer. Imagina o River Plate, por exemplo, sendo excluído da Libertadores por esse motivo – isso seria mais incrível do que o Papai Noel revelar ao mundo que ele realmente existe.

O futebol feminino deveria ter dimensões próprias


A discussão é difícil de ser levada adiante, mas, este blog lança uma questão importante para a reflexão das leitoras – especialmente as atletas. Não seria necessário para melhorar o futebol feminino – e inclusive torná-lo mais interessante ao público, e, portanto, mais rentável – que as dimensões aonde e como é praticado fossem adequadas ao gênero feminino?

Será que se as dimensões do campo fossem diminuídas (um pouco que fosse), o jogo das mulheres não teria uma dinâmica mais intensa e mais interessante, tanto para quem assiste quanto para quem joga? A capacidade de explosão muscular dos homens é maior do que das mulheres. Um campo de futebol profissional varia de 90 a 120 metros de comprimento (lateral) por uma largura entre 45 a 90 metros (linha de fundo). A capacidade de preencher a área interna desse perímetro com fluidez para homens é uma e para mulheres outra. As meninas têm dificuldade de manter o alto ritmo que uma partida profissional exige nos dias de hoje. Isso é visível quando se assiste a uma partida feminina.

No handebol, a bola que as mulheres usam, no profissional, possui medidas de 54 a 56 centímetros de diâmetro (o tamanho de uma linha reta que cortasse a bola exatamente no meio) e de 325 a 375 gramas de peso, enquanto que a dos homens é 58 a 60 centímetros de diâmetro, com peso de 425 a 475 gramas. Por que isso? Porque a mão dos homens é anatomicamente maior do que a das mulheres e porque em média os homens são mais fortes. A bola feminina atende às dimensões que as mulheres conseguem segurar, dominar, quicar e arremessar com o máximo de eficiência que seus corpos humanos permitem.

Foto: Rio 2016 Official Auction
Se as mulheres tivessem que jogar com uma bola masculina isso não prejudicaria o jogo das mulheres, tornando-o tecnicamente inferior ao que poderia ser? A diferença existe para viabilizar a modalidade feminina do handebol. E assim é em outros esportes. No vôlei, outro bom exemplo.  A altura da rede é menor para o feminino – a bola também é diferente para homens e mulheres. Se as mulheres tivessem que disputar seus jogos na altura da rede usada para os homens, não seria mais difícil a fluidez do jogo feminino, tornando-o menos interessante para quem assiste?

No futebol, mulheres jogam no mesmo campo dos homens, com a mesma bola e com o mesmo tamanho de trave. Adequar essas dimensões para o futebol feminino não tornaria o jogo mais interessante?

Essa pergunta fica para as meninas leitoras do Rei da Bahia FC.

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.

Fontes: Site Globo.com, Site Folha-Uol, Site Dicas de Educação Física, Site Sobrilhando e Wikipédia.       

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