quarta-feira, 25 de novembro de 2020

ADIÓS, MANO DE DIÓS...

É com enorme tristeza que cheguei hoje (25) às 15h (Brasília) na redação do blog Rei da Bahia FC e me deparei com uma notícia triste. Diego Armando Maradona, "el Pibe de Oro", como é conhecido em seu país, a Argentina, nos deixou nesta tarde, vítima de uma parada respiratória, aos 60 anos de idade. Maradona foi um jogador de futebol tão brilhante, que chegou a tomar o lugar de Alfredo Di Stéfano na disputa com Pelé como maior jogador de todos os tempos. É verdade, acumulou polêmicas dentro e fora de campo. Na Copa do Mundo de 86, no México, em que brilhou e levou a Argentina ao seu segundo título mundial de futebol, essas duas faces se mostraram no mesmo jogo épico, e que consagraria El Pibe como lenda do esporte. 

Nas quartas de final da competição, na tensa partida contra a Inglaterra, primeiro encontro entre as duas seleções após a Guerra das Malvinas, em 1982, "Dieguito" abriu o placar, no início do segundo tempo, com um gol em que disputou a bola com o goleiro pelo alto e escorou com a mão. A arbitragem validou o gol, e, após a partida, Maradona declarou que se houve alguma mão na bola tinha sido "la mano de Diós" (a "mão de de Deus"). Logo após, fez um golaço aonde driblou 5 jogadores ingleses e deixou o goleiro "comendo grama" antes de balançar as redes. [Clique aqui para ver "la Mano de Diós" ou clique aqui e veja o golaço de Maradona, ambos contra a Inglaterra na Copa de 86!] 

É isso, tivemos o Maradona trapaceiro, disposto a uma espécie de "Vale Tudo" para realizar seus objetivos e vontades. Na Copa seguinte à da consagração do craque argentino (a de 1990), o maior ídolo do futebol argentino arrumou junto com os massagistas da seleção argentina um esquema para oferecer água com tranquilizante aos jogadores do Brasil nas oitavas de final. Era comum à época que quando os massagistas e médicos entrassem em campo para um atendimento, todos os jogadores aproveitassem para beber água, inclusive os atletas do time adversário. 

O lateral esquerdo Branco foi afetado pela manobra, sentiu-se tonto e não conseguiu ajudar o Brasil na busca por um empate. O resultado foi a eliminação brasileira precoce daquele mundial, com a vitória da Argentina por 1 a 0. Branco protestou na imprensa sobre a possibilidade de ter sido vítima da trapaça de "Dieguito", mas a crítica geral e a opinião pública classificaram a reclamação do lateral como "choro de perdedor". Muito anos depois, em um programa de TV humorístico na Argentina, Maradona assumiu publicamente a trapaça. E o fez em tom de chacota, sem nenhum pudor. [Clique aqui e veja Maradona assumindo a trapaça na Copa de 90!]

Na Copa de 94, já na descendente com relação ao seu desempenho físico, tentou voltar a jogar em alto nível, mas foi pego no exame antidoping no mundial, desta vez com substâncias proibidas para emagrecer. Ele, que entre 90 e o ano dessa Copa, teve a carreira interrompida com 15 meses de suspensão pela Fifa por ter sido flagrado no clube italiano em que jogava, o Napoli, por consumo de cocaína, após exames médicos. O Napoli revelaria após terminar seu "namoro" com o craque, que era comum que outros jogadores "limpos" cedessem urina para Maradona poder fraudar os testes antidoping quando era sorteado.   

Carreira conturbada, vício em drogas pesadas, romances tumultuados e falta de honestidade na vida profissional. Não é esse o Maradona que devemos celebrar hoje. Devemos celebrar o Maradona que venceu o Campeonato Metropolitano com o Boca Júniors em 1981. O Maradona que fez uma tríplice coroa no Barcelona vencendo Copa do Rei, Copa da Liga Espanhola e Supercopa da Espanha em 1983. Do Maradona que foi jogar em um time mediano da Itália, o Napoli, e lhe deu sua única conquista em competições internacionais - uma Copa da Uefa em 89.

O Maradona que deu a esse mesmo Napoli seus dois únicos títulos Escudetos do Campeonato Italiano, em 87 e 90. E que ainda lhe daria uma Copa da Itália (87) e uma Supercopa da Itália (90). Vamos lembrar desse Diego Maradona que com a bola nos pés fez gol mais bonito de toda a história das Copas do Mundo. Sim, o gol que citamos foi eleito pela Fifa o gol mais bonito da história dos mundiais, e, além disso, o gol do século XX

Vamos celebrar o Maradona que é o único jogador com dois gols nessa mesma eleição entre os 10 gols  mais bonitos em Copas de todo o século XX - o segundo gol dele contra a Bélgica na semifinal da Copa de 86. [Clique aqui e veja esses dois golaços!] Vamos, por fim, celebrar o Maradona que fez um gol quase no estilo que Pelé não conseguiu do meio da rua [Clique aqui para ver esse e outros 4 golaços do Pibe!] e que, mesmo anulado em campo na final da Copa de 86, conseguiu, no momento mais difícil do jogo para a Argentina (após sair com 2 a 0 e sofrer o empate), mesmo marcado e anulado o jogo todo por outro ícone do futebol mundial, Lothar Matthaus, um passe mágico para o atacante Burruchaga marcar o gol do título argentino.

Esse gigante, esse João Gilberto dos gramados, esse sim! É o primeiro civil a ser velado em "La Casa Rosada", sede do governo argentino - honraria dada até hoje apenas a ex-presidentes do país. Esse cujo falecimento fará com que o Napoli rebatize seu estádio com seu nome, de acordo com notícias do Globo.com. Esse que fez a Conmebol adiar Boca Júniors e Internacional pelo jogo de ida das oitavas da Libertadores e aconteceria hoje. Esse que fez a Argentina decretar luto de 3 dias.

Não, Maradona! Você errou em sua entrevista sobre seu gol de mão contra a Inglaterra. Em se tratando de você, não foi "la mano de Diós". Ela foi infinitamente menos importante que o seu pé. Ele sim foi divino! Demais! Essa mão aí foi a que morreu hoje. O seu pé não. Ele estará conosco para sempre! Descanse em paz, gênio dos gramados. 

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.   

Fontes: Site Globo.com, Wikipédia e You Tube

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