segunda-feira, 28 de setembro de 2020

FALTA SERIEDADE AO BRASIL NO UFC?

Adesanya após o nocaute em Borrachinha
Foto: Getty Images

Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) - Na madrugada de sábado (26) para domingo, o Ultimate Fighting Championship (UFC), a maior organização de Artes Marciais Mistas (MMA, na sigla em inglês) do mundo, realizou seu evento oficial de número 253. Essa contagem leva em consideração apenas os eventos principais da competição, onde acontecem as disputas por títulos e onde figuram aqueles considerados principais lutadores a serviço do UFC - outros eventos da organização, a exemplo do Fight Night, não entram nessa lista. 

Na luta principal, o nigeriano Israel Adesanya defendeu o cinturão da categoria dos médios (até 83,9 kg) diante do brasileiro de Minas Gerais, Paulo Henrique Costa, conhecido como 'Borrachinha'. Após um 1º round marcado por uma série de provocações do brasileiro ao nigeriano, Adesanya nocauteou no segundo round, atingindo a vitória de número 100 em sua carreira como lutador no boxe, muay thai e MMA. Já Borrachinha amargou a primeira derrota em 14 lutas atuando no MMA. A derrota do brasileiro abriu, na opinião deste blog, algumas perguntas pertinentes sobre o desempenho recente do Brasil nesse esporte.   

Um dos ícones do UFC, o ex-campeão dos meio pesados (até 93 Kg) Jon Jones, descontente com o desempenho de Borrachinha chegou a criticá-lo em sua conta oficial no twitter, reprovando as provocações do brasileiro ao longo da luta e chegando a xingá-lo após confirmada sua derrota. Adesanya também é um lutador com estilo provocativo, mas manteve a seriedade diante das brincadeiras de Borrachinha e construiu uma vitória sólida no último sábado. Diante das críticas e dos resultados, está faltando seriedade aos lutadores brasileiros no UFC?  

Em eventos recentes outros dois resultados de lutadores brasileiros outrora promissores, me fizeram chegar a esse questionamento. Cito aqui as derrotas do carioca Johnny Walker, no UFC 244 (em novembro do ano passado), para o canadense Corey Anderson, e na edição do UFC Fight Night realizada em março deste ano, para para o ucraniano Nikita Krylov. O brasileiro vinha bem na organização caminhando para se credenciar a uma disputa de cinturão dos meio pesados. Sofreu esses dois revezes e caiu no conceito do evento, se afastando do topo da categoria. 

Walker em suas lutas parece mais focado em fazer palhaçadas para as câmeras do que em se concentrar em seus adversários, tendo desperdiçado com essas derrotas oportunidades que poderão lhe fazer falta na carreira - aqui nossa torcida para que recupere o prestígio e o caminho das vitórias, tendo já começado com uma vitória por nocaute sobre o estadunidense Ryan Spann, no UFC Fight Night realizado há pouco mais de uma semana atrás, na cidade de Las Vegas. O outro lutador que me chamou a atenção com as provocações é o paraense Michel Pereira.

Sempre entra nas lutas dançando e fazendo performances de capoeira. Em luta pelo UFC Fight Night em setembro do ano passado, contra o canadense Tristan Conelli, Michel entrou no octógono fazendo danças movimentadíssimas e com passos exagerados. No começo da luta, deu golpes nos quais dava cambalhotas e piruetas girando no ar, similares a golpes desferidos por personagens de video game em jogos como Street Fighter ou Mortal Kombat. Resultado, perdeu o fôlego na luta, foi dominado e quebrou uma sequência de vitórias que poderiam encurtar seu caminho para o cinturão dos médios. 

No sábado, Borrachinha tinha a oportunidade de aproximar o Brasil como o país com mais cinturões conquistados na história do UFC! Será que um feito desses não valia a pena o brasileiro ter se focado exclusivamente em encontrar brechas no jogo do adversário, fazer um combate mais concentrado no complicado dever de anular o talentoso Adesanya, ao invés de dividir esse foco com provocações inúteis na tarefa de construir uma vitória? Borrachinha era a esperança de se tornar a nova estrela do MMA brasileiro agora terá que trabalhar (sério) para recuperar esse prestígio - por agora, foi só mais uma decepção.

Os maus exemplos pelo menos venciam

O estilo provocador não é proibido de se adotar num combate. Se formos para o boxe, as lendas Mohhamed Ali e Roy Jones Jr gostavam de irritar os adversários com danças e até xingamentos e escárnios proferidos no meio do combate. A provocação pode ser usada como um recurso técnico para desestabilizar o oponente. Mas esses dois eram lutadores fora de série, em geral tecnicamente extremamente superiores à maioria de seus oponentes. No caso de Ali, mais antigo que Roy Jones Jr, a época era outra, o grande circuito tinha até lutadores que eram completamente profissionalizados.

Hoje em dia, nos esportes de combate de alto rendimento todos os lutadores sobem às arenas de luta com todo um aparato científico e tecnológico por trás de suas preparações. As técnicas e expedientes de eficiência comprovada não são mais segredo para nenhuma das grandes equipes envolvidas nos altos circuitos do combate. É necessário muito cuidado para adotar uma estratégia com palhaçadas e gozações em qualquer esporte de artes marciais atualmente, e no MMA não é diferente. E Ali e Roy Jones venciam a maioria dos seus combates e já atingiram suas glórias. 

Você pode até provocar, mas tem que apresentar o resultado de vitória para que isso se torne legitimo. De outro modo, o lutador será apenas mais um idiota sem profissionalismo perante o público e a crítica especializada. O próprio UFC tem um bom exemplo na sua história recente. O brasileiro Anderson Silva teve uma ascensão meteórica, conquistando o cinturão dos médios da organização com performances arrasadoras e espetaculares. Depois de um tempo, adotou um estilo cada vez mais provocativo com seus oponentes, exagerando e estragando seus combates do ponto de vista técnico.

Irritou fãs e a imprensa internacional até que o exagero nas palhaçadas o levou à épica derrota para o estadunidense Chris Weidman, no UFC 162, em julho de 2013. Dali pra frente, o 'Spider' como é conhecido por todos no circuito dos combates, caiu de rendimento e obteve apenas uma vitória em seus últimos 7 confrontos, encaminhando um fim de carreira distante do ícone de lenda que construiu ao longo dos anos. Basta assistir aos combates que o levaram ao topo no passado em comparação com os que fez após se tornar campeão contra Rich Franklin, no UFC 64, em outubro de 2006. 

Antes, Anderson era mais compenetrado e objetivo. Depois, foi se tornando mais fanfarrão e hoje demonstra um jogo sem confiança e pouco eficiente, amargando derrotas para lutadores muito menos significativos do que ele na história do MMA. Hoje, tenho saudades do estilo mais profissional de lutadores como Rodrigo Minotauro, Wanderlei Silva e Maurício Shogun. Eles nunca estavam para brincadeira, literalmente falando, e que belos espetáculos nos proporcionaram na época que os brasileiros levavam o MMA mais a sério e com mais humildade! 

Paolo Gutiérrez é jornalista e comentarista de futebol e MMA.

Confira todos os resultados do UFC 253:

CARD PRINCIPAL

Israel Adesanya venceu Paulo Borrachinha por nocaute técnico aos 3m59s do R2

Jan Blachowivz venceu Dominick Reyes por nocaute técnico aos 4m36s do R2

Brandon Royval venceu Kai Kara-France por finalização aos 48s do R2

Ketlen Vieira venceu Sijara Eubanks por decisão unânime (triplo 29-28)

Hakeem Dawodu venceu Zubaira Tukhugov por decisão dividida (28-29, 30-27 e 29-28)

CARD PRELIMINAR

Brad Riddell venceu Alex Leko por decisão unânime (triplo 29-28)

Jake Matthews venceu Diego Sanchez por decisão unânime (triplo 30-26)

Ludovit Klein venceu Shane Young por nocaute a 1m16s do R1

William Knight venceu Aleksa Camur por decisão unânime (29-28, 30-27 e 30-27)

Juan Espino venceu Jeff Hughes por finalização aos 3m48s do R1

Danilo Marques venceu Khadis Ibragimov por decisão unânime (29-28, 29-28 e 30-27)


Fontes: Site Globo.com, Wikipédia, Superlutas.com e Google Search.

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